terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Só lhe dão

soluço de choro
se prende nas horas
sorriso de longe
se perdem agora
sombria me invade
escuro na cama
solitude se deita
se exibe profana
sozinha me exibo
para o reflexo do espelho
sóbria me encaro
deslumbre de um raro
sentimento de freio
eu paro
e me preparo para um golpe certeiro
me rasga em peçados
me acerta em cheio
vazio contido
preenchendo meu peito

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Quero ver o mar

feminina
onda de pensamento
determina
o começo do nosso momento
maresia
em outra versão te alcançou
enxágue
já que os olhos, já que o coração secou
me seca
depois de me molhar na chuva
encharca-me
com uma tsunami de alegria
navegarei em ti
quem dera
deter essa tempestade
tandera
os olhos ardem de saudade
ah, quem  espera
a maré baixar de mansinho
e como quem não quer nada
diz que quer tudo
e mais um pouquinho
praia, sol, salga o suor
afago  marítimo
que com esse rítimo
vai se apaixonar
ah, eu quero ver o mar...

Rio de Ella, mar de nós

Ella canta Cry me a river
como se o meu mar de saudade
 não transbordasse tanto quanto
 esse seu rio de lágrimas

 Querida, o rio corre e aqui,
 logo me ocorre uma sensação de maresia,
 boiando nas ondas sonoras
 que você teve a coragem de me gravar
 me marcar assim, tão mar

 Ar de querer-me sem fim,  e justo por mim,
 que marinheira de mil e umas viagens,
e mesmo sem bote, asseguro um drama sem fim

 Romance este que aceitei sem porto
conforto do céu que desafina em gotas,
transforma em água que toca a terra.

 Rio de Ella e mar de si
 lá menor, aqui maior, enfim
 Há de amar o mar de ti.

Cheia


meu coração vazio
de luz clareia
a fome de preencher
com um jeito manso de brilhar
o formato de lua cheia

um mar de mel se abriu
é tão doce mas não me enjoa\
de ficar nadando ao léo
com tudo, contigo e à toa


de todas as fases da lua, eu prefiro a lua cheia
cansei de ser vazio, te quero por inteira
se crescente for, então espero ansioso
quando cheia ficar, eu te ligo de novo

nesse ciclo eu fico, esperando uma luz
no túneo, sem rumo eu peço um pouco mais de visão
pra botar o pé na estrada, não pensar mais em vida alheia
já que sou cheia de vida, vou esperar a lua cheia

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Dor elegante

pra sanar essa dor
é preciso te calar com minhas vitórias
é preciso fazer mais
do que apenas contar as horas
pra sanar o teu romance
com a tal da outra
é preciso cantar mais alto
do que essa meia canção de voz rouca
é preciso ser mais louca
pra vingar meus desejos
é preciso humildade
de evoluir e ser a outra
sem perder a vaidade
é preciso ser mais de verdade
pra eu me tornar feliz
felizmente tenho que estar longe
refazer meus poemas incrédulos
e me tornar não tão mutante
é preciso ser estável
mas imprestável por um instante
voltar de outra cidade
me sentir à vontade
por te embalar e expor na estante
é preciso ser elegante

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Domínio

minha natureza é dominar,
 está em mim
e crente que isso nunca ia mudar,
 me desfiz
quando não sou quem realmente sou, apenas repouso
minha fera está adormecida
pobre bandida
que me bania quando eu merecia
que me guiava por atalhos perigosos
e hoje em dia, nem me visita
gloriosa e dominante natureza de comando
está pálida
está sem artifício
está submissa
mas, cuidado ao brincar por perto
uma hora ela desperta
e o tiro será certo
o alvo, este hoje que hiberta
e diz que dorme nas cavernas
será o meu maior sobresalto
natureza de comando
a própria se desnaturou de mim
por onde andas?
que não andas por aqui?



Sal

distante das minhas fantasias
de te ter por mais alguns minutos
diz tanto sobre a maresia
que me toma conta aos prantos
mar de água salgada
que conforta meus olhos
e nadam em nada além de ti

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Vidália

há quem diga que eu possa ser um monstro
e ainda me fazer de vítima
mas como ser a bela e a fera
no mesmo instante,
num momento em que o que sou é apenas: vida


mostre-me as faces de moeda renascente
que me mostra verdes e carros num mesmo ambiente
que me sente de um jeito vívido
límpido, como diria ele
encandescente

sou uma bolha e noutras me estouro
viro bagunça de carnaval
viro um ninho sozinho no canal
estilo de viver é apenas ser
e quem mais será? na minha vida virará?
o homem que conserta as coisas em casa
o poeta que sussura versos
o músico que me encantava imerso
de amor e calor a transbordar

desisto
pois sozinha sou mais
sou forte e me faço capaz
de ser apenas vida e viver 
ainda que solo
sendo mais sagaz

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Há de haver

música de amor faz-te poça d'água
um mar de rosas vermelhas
assim como a cor do meu batom
no seu pescoço
ainda lembro
Marisa mandou avisar que Norah virá
há de ficar
mas se não ficar, ainda tenho as canções
as preferidas nacionais, Lee
Ritinha que encanta
Copacabana boy me fez chorar
mas quem nunca passou, lá irá de passar
nas férias, com Holiday, Billi
uma temporada
pegando umas ondas
sonoras de amor
há de escutar

Xilofone

Gostaria de saber mais de ti
Quem foi que te projetou
Quem te deu suas aptidões
Quem te bateu
Te tocar e te descobrir
Sonorizar
Agudo, infanto
Micro
Fone
Xilo

Flamboyant

um divertido ciclo começa
numa batida leve e feminina
com mágoas e força
com suavidade e graça
com saias rodadas e mãos dadas
eu me recupero sendo feliz
e é a minha única fome
minha únida sede
minha única playlist
suave
nave
pousando e ficando densa
como Flamboyant
como aquela queta
mina
de ouro
a batida vai ficando forte
mas eu nem ligo
eu danço
e tiro encanto dos que um dia me arrancaram o canto
hoje eu manjo
hoje eu me chamo
e atendo
hoje eu me entendo

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Floriano bastardo

O desbravamento da Avenida Rendeiras
O anúncio no The New York Times
Saudade da paeja do Capitão
e as tardes de sinuca no bar do Cais
Floriano era um Hilter catarinense
e esse nome agora eu desgosto
Nem tudo são flores
Mas garanto
 a beleza dos cantos da Ilha
Magia que expõe a naturalidade
de nos servir com orgulho que contagia
supre qualquer bastardo mal amado
E qualquer sonho de vida
Ah essa magia...

Revival blues

I'm living on a roller coaster 
and i dont know if I want to stop
I thought it would stay down for longer 
 but my mind flew by yourself

 so I could have fun with the gravity
 my feelings are shaking on the dance floor
and stay strong as a rock
waiting my new boyfriend nhoc on door

oh baby, now i listen to Stevie Wonder and dont even remember your name
im singing like a Billie Holiday and you even act like a man

Oh sugar, you really put me up singing to me in your show
but now i kiss my shoulder, my scar is over, my name is The fuck reveng that you one day you puts down









Devaneio

O vizinho às 7 me acordava com marteladas
Então parei, fumei, sentei na varanda, próximo ao canal da Barra
Condomínio costa leste, há quem um dia viesse..
Os pássaroa cantaram
Na rádio tocou Here comes the sun
Os beatles me entenderiam

Futura

ah, eu vou
agora mais do que nunca dizer 's'im
ah, estou estou
recuperada daquele dramático fim
é, e nessas chorei
mas agora amor, é só sorriso
por não estar só
por estar agora só contigo
e a gente cái na bossa
e a gente sente saudade
e canta em fracês
e sabe se amar melhor
do que outros a dois se amaram
altruísmo, meu bem
a gente sabe combinar sem ter segredos
a gente sente que pra se sentir
nãoé preciso ter medo
você me salvou amor
salve salve minha nova futura dor

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Labirinto

nas laterais desse latifúndio
nos encontros desse labirinto de gente
surpreendentemente a gente se acha
nas estradas, nas beiradas,
a gente come antes de esfriar
pra ter mais gosto
no prazer da dor de queimar
há de sarar
daquele dia doce
que mesmo depois de tanta acidez
eu mesma achei que fosse
o início
o término do solo
e o que vem depois?
eu chutei pro gol
a resposta: a dois
e junto com o par veio o bando
e por esses cantos se cruzou
a vida de todos em um só atalho
azar do amor
sorte no baralho
e no fim tudo voltou ao começo
e por bem lembrar-te, não esqueço
o labirinto é confuso mas tem uma saída
quando chegar a gente se vê
ou talvez você me liga
pode ser?

Pseudônimo

Valentina
Valente
Valiosa
Vale tudo

Linguagem dos pés

é lindo o jeito como você fala com os pés
que enrroscam nos meus e se encaixam
eles me dizem que sou sua mulher
pra vida toda ou só naquele domingo

é tão bonito te ver por pixels
compondo suas viagens em escritos
seu timbre quase alcança uma nota imperial
 e lá no céu ela se solta

revela sua vontade de quer amar sem dó
desembaraça nos seus olhos
atrás das lentes dos óculos que eram da sua vó
o brilho quase fosco de um sufoco que já passou

é tão discreto meu jeito de saber
que de qualquer forma e qualquer furo
eu ainda assim vou te escrever
uma música mal feita
ou aqueles meus poemas clichês
que você já diz que gostou
e que eu sou inspiradora
antes mesmo de terminar de ler

nosso jeito bobo de se desajeitar
nossa fisionomia esquisita de combinar
quem diria que agora, a essa hora eu aqui estaria
sofrendo de insônia e assistindo a tevê no mudo
4 horas da manha e eu aqui solo no ninho
na utopia de encontrar qualquer resposta num gole a mais de vinho

Há tempo

realmente eu tentei evitar
aquele ato
que constantemente tenho 
de querer amar
fiquei fora de mim
e quase em ti entrei
a onda bateu forte nas pedras
e de tanto bater, conseguiu
sensatez
ainda é cedo, amor
mas sei que um minuto vale ouro
outro romance eu recusaria
mas te olhando assim de canto dá sede
uma vontade de não me render a mais nenhum encanto
por isso naturalmente espero
ansiosamente enxergo
o esforço de segurar o pranto
só de pensar em esquecer
alegria faz-se espanto
a onda vai
outra onda vem
e quando penso que nessa posso nadar
e outro alguém pode me salvar
nada mais convém
condiz com o que solitude expressa
não há tic nem tac que te faça ir mais depressa
assim invento um tempo só meu
autonomia de viver
relógio adiantado
que precisou do meu afago pra mostrar-se inteiramente teu

Luz

Um frio totalmente calculista,
eu sinto entrar pelos meus póros
Me deixa a merce de um navio sem rumo
E nem todo o fumo que existe nessa carteira
me fará amenizar

Imagine você uma vida sem raios solares
sem partidas e novos lares
Seria tão só ser só um ser
A medida incerta de viver apenas para crescer

Tudo agora parece ser assim, sem sentido
e mesmo meu amor estando ressentido
e eu não sabendo o motivo, ainda o sinto

Distante, relutante, suave e permanente
até quando? eu não sei
E nem queria saber
A vida tem dessas, de fazer o que bem entende
e quando me pego por gente
entendo que o relógio é só um artifício
que calcula o que não pode ser calculado
e a medida que me vejo longe eu penso:
talvez não fosse mesmo para estar ao seu lado
e calo.


sábado, 9 de fevereiro de 2013

Novela

Me deixa ser a outra que te mostra a sorte/
ao invés de ter a forte impressao de não te ter
Te deixo ir embora/ mas prometo abrir a porta da manhã ao entardecer
Conforta meus pés descalços/ que agora no asfalto eles querem se entreter
Condiz com a minha falta de compasso/mas cada um tem o seu passo
o meu é seguir você

Amor eu não te imploro pois acredito que isso seria imoral
mas mais amor eu não me importo de ter mesmo que transborde alegria em meu quintal

Meu bem já sei um rumo para todo meu ciúme que eu sinto ao não te ver
Jogar pela janela qualquer tipo novela que se passa tevê.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Nunca ninguém

Não há ninguém nesse mundo que possa ter a sua suave sagacidade. Seu jeito de chegar e encantar, seja quem fosse. Um estilo sensual e irônico de envolver as pessoas. Muitas coisas erradas foram feitas, com seu conhecimento, mas as coisas boas suprem todas os artifícios.  2920 dias vivendo ao teu lado, pude ter a certeza de que pro resto da minha vida nunca haverá alguém que se compare a você para minha vida, não há outros humores, outros abraços, outro "sim" tão sincero, outras aventuras, outras desventuras, não haverá outro porto tão seguro. Ninguém nesse mundo vai poder saber nossos segredos, eles foram junto contigo, ninguém mais saberá o quanto lutamos, passamos por dificuldades e dias de luxo, nadamos no lixo e sobrevivemos rindo. Nadamos na praia de madrugada sob efeito tóxico, passamos noites a fio jogando sinuca, conhecemos pessoas de outros países, subimos em morros de favelas desconhecidas e fomos adoráveis. Andamos por horas à beira-mar, deixamos nossa antiga cidade, nossos antigos amores, esquecemos do mundo e por um instante nós fomos nosso próprio mundo. Casamos, separamos, nos juntamos, casamos de novo e por fim, eu, viúva de ti. Tenho a certeza de que teu último ano de vida ao meu lado foi um presente pra mim, foi uma despedida prolongada, foi a tua vitória antes de deixar esse mundo carnal. Nunca ninguém realmente vai saber como foi ficar sem teto por vezes e conseguir ajuda de onde menos esperávamos. Nunca ninguém vai saber os dias que não tínhamos dinheiro para comer e no final do dia já estávamos embarcando em algum barco pra um passeio de luxo; a nossa sorte era nosso combustível. Nunca ninguém vai realmente saber cada minuto que chorei por você não estar mais aqui, na nossa casa, no nosso ninho, nosso cantinho de planos e sonhos. Eu sei que você está aqui em espírito e sempre estará, mas me dói não ter mais teu corpo pra abraçar. Aquela cama de hospital é tão demodê, tão não você. Tua vida no céu é digna da sua personalidade de um Deus. Prometo não esquecer um dia sequer. Prometo que nunca ninguém vai ter esse lugar imenso que ocupa o meu coração e é só seu. Te amo demais, Rafauel.

Dê mente


Ansiando resposta
Procurando perguntas
Pesquisando números
Panos imundos
Sujeira humana
Cabeça corrompida
Intriga por espaço
Bala de aço
Balasso

Ex amor


Há quem diga que o amor não exige de nós mesmo, pois há também quem diga que amor é relativamente igual à lei de talião: "Olho por olho, dente por dente", sabe-se que essa lei que vigorou 1780 a.C. ainda reina, parcialmente. Na mente dos frios, no aterro dos quentes, na média dos medianos - sempre neutros.

O que me faz entrigar, na realidade, é não saber como o amor é visto pelo meu amado. Digo, como é vivido, interpretado. Sinto que não sinto inteiramente essa troca. Sinto que é troco. É pouco.

Eu me decoro, imploro, invento o tempo, reinvento um compasso de nós para desatarmos, e..-nada. Nada acontece. É tão novo, porém parece tão pré-histórico. Eu e o meu homem das cavernas. Sem energia. Sem sinergia.

Além de descobrir quem é o responsável pelos meus segundos milenares, eu tenho de descobrir quem é o ladrão dos meus sonhos. Preciso aplicar a lei da babilônia: enquanto vítima e agressor ocupassem o mesmo status na sociedade, enquanto castigos fossem menos proporcionais de litígios entre os estratos sociais: como blasfêmia ou laesa maiestatis ( contra um deus, monarca, ainda hoje, em certas sociedades), crimes contra um bem social foram sistematicamente punidos como pior.

Cais


To levando um choque térmico
esperando uma reação
sem ser quimica ou artes
da póvora fez-se explosão

Volta pro meu cais e me tira essa âncora
ondas descontroladas
armadilhas montadas
tropa sem estrelas nem beiras
céu sem sereno e sem sereias

Velhos ditados deletam
toda a palavra concreta
todo o conjunto de falhas
todos os sinos e setas
sem arco nem flecha
sem mito e meta

Não é preciso mais que dois copos
basta o um olhar de lado
um termo calado
coração com furo, coração escuro
Balanço sem jeito meio encostado

Térmico choque me esquece e se toque
me suga e aumenta
adormece e tormenta
anestesia e desgasta
do calor pro quente, a primavera basta

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ser só

Soltar o verão das mãos
Deixar voar 
Como o amanhã voa de encontro a nós
Deixar que a ansiedade nos deixe a sós
Estar só sem ser só um ser
Voando ao encontro do outono
Que mesmo sendo frio, habita em você
Só ser

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Mar de nós

Ella canta Cry me a river como se o meu mar de saudade não transbordasse tanto quanto esse seu rio de lágrimas. Querida, o rio corre e aqui, logo me ocorre uma sensação de maresia, boiando nas ondas sonoras que você teve a coragem de me gravar, me marcar assim, tão mar. Ar de querer-me sem fim, e justo por mim, que marinheira de mil e umas viagens, e mesmo sem bote, asseguro um drama sem fim. Romance este que aceitei sem porto, conforto do céu que desafina em gotas, transforma em água que toca a terra. Rio de Ella e mar de si, lá menor, aqui maior, enfim. Há de amar o mar de ti.

Ciúme

"a reação complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade"[

Sei que não tem mistério, amor
mas eu mesma me tiro do sério

Vi borboletas, amor
saltitando lindamente aqui no meu estômago

Eu sei da sorte, meu bem
de ser tua até o sol se pôr

E eu sei me pôr também
nesses braços feitos pra serem meu abrigo

Senti um perigo também
ao pisar nessa cidade

Cansei de ser mais uma sozinha em meio ao mundo
mas juro, não quero amor por caridade

Te quero por inteiro e um pouco mais do que isso, se possível
da minha vida junto a tua, além da maresia

Quero te ter além do sol, por um instante,
na minha estante, unidos pela individualidade

Um artigo de luxo na minha vida
que andava assim, tão sem vontade

Assumo o ciúme então, transparece minha áurea
azul marinho, que por onde voa, intimida a gravidade





terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Receita

eu fico sonsa
mas com sal
pitadas de suavidade
junto com a gravidade
sem ser insossa
te misturando na receita
raridade
que quase feita de veludo
de tão macia
a carne sacia
e o espírito levita
segredo de família
receitei confiar, e aqui está
sala de jantar
tomei coragem, cantei o menu
e mandei servir-te
sal a gosto, a me gostar
sob à mesa, sob o solo, sob o luar
sobremesa de vingar
paixão com gosto de tempero
e de tanto te querer por inteiro
te engoli
e cá estás
minha boca a ensaiar
teu sabor a me sentir

O nosso

O nosso som é dueto
O nosso tom é sem medo
O nosso embalo é sem jeito
O nosso colo é aperto
O nosso futuro é perfeito
O nosso amor é enredo

Ainda nado

Agora é tão perdido
uma bala em meio ao escuro
Um beco com saída
para uma despedida
uma viagem sem destino
um romance com futuro

Agora que eu te achei, amor
e hora fez-se minutos
o tempo passa estralando o chão
dando uma noção
teoricamente sonora
das batidas do meu coração
E agora?

A hora que te pego
olhando pra mim
e me vejo no reflexo
das retinas complexas
cheias de atalhos
que quase me engasgo
nesse mar tão salgado
lágrimas de afago
ainda nado

Mas nada me tira desse barco
não quero mais abortos nem bordados
o bar da esquina virou lar
de cigarro em cigarro sobrevivo
me devorando entre os tragos
ainda te trago
ainda te pago
por ter me tirado dessa monotonia
e ter me puxado pra essa tempestade
ainda nado


Em frente

Amor, eu errei
quando disse que seria só
somente sua, então
acertei

Meu bem, você disse que sim
viveria a noite
como foi ontem
pra sempre e enfrente
em mim


O quê?

O que é, o que é..

te faz querer e temer
gritar e tremer
sentir e doer
mas dar cor e
uma leve impressão de
que pra sempre vai viver?

Você

Tantos

Tantos anos
tantas vidas
tandas idas
algumas não vindas

Tantos sonhos
e mais realidades
tantos contos
pra tão pouca idade

Tantos beijos e abraços
Tantas festas
quantas ressacas
quantos embaraços

Tanto a dizer
e tão pouco dito
tanto a ser sublime
só por ser tão sentido

Tão abrigo
Tão delicado
mas intenso
tão complicado
por ser simples, assim julgado
tantos milagres
e mais ainda, tantos pecados

Tanto que te quero
que nunca te engano
tanto quanto mulher
tanto quanto irmã
tanta verdade e tantos planos
quantos tantos
só pra dizer que tanto te amo

Depois da ponte

Flutuante
num mar de travesseiro
nasceu assim
sem partos
nosso aconchego

Com a partida eu vi
sem ti um segundo
e pela primeira vez
senti
dor de dar adeus
dor de ir

Dó de ficar assim
do outro lado daquela ponte
magnífica
estruturada e que implica
uma cobertura de céu
e forrada por mar
 tão pacífica

Sem paz fiquei
mas isso faz parte também
de sentir o sal
a idade
o doce
a saudade
sentir-se em ti
mesmo de longe
a sonoridade
desatar os nós
de perto, alma a alma
sermos nós