terça-feira, 28 de junho de 2011

Inesperado

Eu tinha planejado uma noite bonita, com grama, noite e lua. O tempo discordou, mas presenteou. Me deu mais do que eu esperava e menos do que eu realmente queria. Mas quem reteu não foi o ponteiro, foi o sujeito. Eu estava quase saindo, o casal mais bonito da cidade ia dar carona para mim e para a mulher da minha vida, que de fato, não é minha mulher, é filha. Quando sentamos em frente à mídia virtual, dos deparamos com algo que nos fez tremer. Ela sentiu por mim. Ficamos em choque, confusas e sem ação. O que fizemos? Nada. Deixamos a chuvar fazer pela gente. O monstro e a bela chegaram e decidimos ir a um bar que sempre vamos, mas lá estava chato e sem ninguém. Era um sinal. Em um instante engolimos a droga que ia nos fazer libertar e esquecer do nó que se enrolava no lado sul da cidade. Mas não estava tanto no sul, já estava no norte. A ligação berrou no bolso do trend coach, todas se entreolharam. "Estamos na sua casa, onde estás?". O batimento cardíaco simplesmente existiu ali, naquele momento, como uma bomba atômica, exorbitante. Tudo fez sentido. Aí, nesse momento, a emoção ajudou a bater o tal tóxico que antes havia ingerido. Tudo ficou confuso e exposto demais. Em segundos eles estavam com o carro na frente do bar, esperando alguma novidade ou bebida. E dentro do carro, o temido, o virgo, o forte-fraco-amor-eterno. A sombra. Ao lado, o amigo, ex amado, mas ainda assim amado hoje em dia, mas ocupa outro cargo. Atrás, as camomilas do meu ser. Me acalmam. Princesa e raínha ocupando seus lugares mais lindos no coração e no banco traseiro. Eu olhei de fora, estava chovendo, ví apenas o motorista. Fui até o banco de trás, abri a porta e me escondi da chuva, pra aparecer pra ele. Minhas palavras apenas saíram: "vamos lá pra casa, a gente ouve um som, toma um drink, faz Sofia dormir e relaxa na toca do leão". Todos concordaram, todos queriam isso. Inclusive eu e a mulher da vida. Entrei no bar novamente, havia de pagar a conta, não hesitei em levar o casa mais bonito da cidade junto comigo, afinal, eles são amados por mim. Saímos do bar. Compramos algumas bebidas e cigarros, eu já estava formigando dos pés à cabeça, não sabia como agir, deixei a anfetamina falar por mim. E foi assim que tudo aconteceu, no impulso. No lar, falamos alto, fumamos, conversamos, jogamos o jogo da espontaneidade e até revelamos segredos. Alguns estavam agitadíssimos e outros nem tanto, como ele, que até dormiu durante algum tempo. Mas entendo, que seja o efeito do antídoto anfetamínico. Sei que é um pouco forte pra ele. Mas pra mim ainda é fraco. Eu precisava de uma dose de atenção dele, e ganhei, viu. Pela primeira vez ele conseguiu se soltar, nem que por alguns segundos, mas ele conseguiu ser franco. Fizemos um arém de amigos no quarto vermelho,  a pequena ficou próxima. Dois casais num mantro. Um casal que existe e o outro que quer existir. Mas talvez nunca vá. Toquei-o à noite enquanto sonhava em paz. Fiquei reparando em seu rosto de outros carnavais. Fotos registraram a noite e o outro dia, que foi corrido, escuro, mas confortável. Comemos um lanche que preparei e depois comemos pizza que paguei. Ao fim, levamos-o até uma estrada bonita, com ganços e cheiro de mato. O frio matava. Mas não tanto quanto o silêncio até a chegada. Eu chorava baixinho a despedida fria, e sentia que o dia anterior tinha marcado. Ele talvez tenha me conhecido com outros olhos, ou possivelmente teve vontade. Realmente eu queria ter um poder de resumir o que sinto agora, mas é tudo tão complexo e ao mesmo contraditório que o que posso fazer é esperar, como sempre, pelo inesperado. Como foi essa noite, como pode ser amanhã. Eu inespero por ele. E se demorar demais e nada acontecer, saiba eu já havia inesperado por isso.

domingo, 26 de junho de 2011



Eu sabia

E quem não sabia?
Que você ia voltar com esse ar soberano
como se tivesse passado por tudo
sem saber que ainda me afogo

Mar morto que se formou com lágrimas
que mesmo sendo de crocodilo não é natural
E não dou pé, não dou conta de levar sozinha

Toda sua falta de sentimento
e minha abundância no temperamento
tempero que faltava pra ti, uma ausência de metodismo

Mas virgo não reage, virgo dorme
E finge que não tem força pra noite
ou nas coisas naturais como eu, como ela

A carona até o fim da trilha é segura
quando se está em um automóvel blindado
Reservado para se preservar de cores
formas, sabores de aventura

Tão blindado que resiste até hoje
a munição de pressão que te miro

Lindo será o dia em que o alvo será em cheio
meu peito vazio então amará o receio
de te ter menos longe do impossível
mosntrando-se incrível minha coragem de continuar.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Turbulência

Em meio a um caminho suave
nasce na nave um clima estranho
Não, não é a falta de um presente
é a fase fúnebre do existente
Fantasma esse que criei

Em falsetes sustentei
toda a força do ar nas giratórias inglórias
e pedi com fé que nada ia nos abalar
Mas abalou, estruturas sem base
Fase essa que perdi
todo o encanto que nunca ressenti

E agora, copiloto em chamas
sem par, bastardo, sem chances
Um trêmulo espetáculo da vida irreal
sustento esse que assustou

Aqui, ainda pulsa uma verdade
pois se um dia houve dignidade
eu vou suportar, a guerra nessa terra de lúcidos

E viver a simplicidade de apenas ser
um louco alucinado por descobrir-te ainda mais
Do nada que sei, amo tudo
E ainda assim, não largo o escudo

Escuro dia em que te perdi
em qual ascento ou qualquer esquina
Só sei que essas paredes cerebrais ainda tremem
e gritam por calmantes
Suficientes de me deixar ampla nesse estado imparcial

Me deito aqui, só
Pois do pó que me tornei
O fim da turbulência nesse trêm cardial

terça-feira, 14 de junho de 2011



USA

USA e abusa, é para lá que eu vou
siga as estrelas mas continue me usando
em um segundo estou em Paris
bye bye usa, mal me quer, mal me quis

se viajar pra New York não foi suficiente
viaje debaixo do edredon
siga as silhuetas e as marcas vermelhas
formatos perfeitos, vermelho batom

USA, sem medo, use me
sinta, segue e surde
sem sentidos, na noite agitada
sem agitos na mente ocupada
usando-me na noite gelada

com um blues na vitrola
realizo um sonho nos unidos estados
partindo pra uma realidade fora daqui
em um segundo estou em Paris
bye bye USA, mal me quer, mal me quis

Moreno

Eu vou praí te ver, moreno
espere que já eu chego
Pra matar aquele tempo
que na ausência do seu templo
rezei lares e altares

Naveguei mares e morri na praia
como quem desiste de tentar a sorte
como quem resiste em ser forte
e finge não ver a tocaia

Nas trilhas senti medo, meu bem
mas isso faz parte também
da dor que é contar o ponteiro
relógio certeiro que te tirou de mim

Eu vou praí te ver, moreno
e mesmo que as portas se fechem
eu estarei na rua
Espero que não da amargura
e sim na doçura de te ver mais perto

Esperto serias tu, moreno
ao correr e me abraçar
Deixar que o afago seja alto
Assim como no altar

Eu vou praí te ver, moreno
mesmo que o mar esteja revolto
e que o extremo sul não tenha porto
ausente de ti não hei de ficar


Algo que treme
nas laterais desse corpo urbano
vive um nó de escoteiro
Gigante e feio, envelhecido

Que faz com que o corpo reaja
que seja simples por não ter nada
que complique por criar sentenças
e influências de organismos desacostumados

Tanta ansiedade por viagens
que sem destino são guiadas
por águias, por fadas, por nada

Obrigada.

Inferno astral

Fostes vivo por um segundo imortal
enquanto que na mente desmentia
tal moral que construía
de um vendaval atemporal

Diz que me levara
mas nunca senti o tempo
voando com o descontento
de ficar aqui na espera

Megera essa que criastes
sem malícia de viver
e hoje é um ser-monstro
que não mata mas não cura
e desmente a amargura
de vilão sem compostura

Mas a ida não vai sem volta
pois se estás aí é porque discorda
que um dia meu lado foi tua casa

Agora, sem-teto vives
não tão bem quanto ao meu lado
mas se precisas de um bom agrado
para não pagar aluguel nas ruelas de São Paulo
Vá! mas não volte

Pois aqui, ainda que eu me revolte, teu ser não será mais
Nada meu, nada nosso, nada a postos
de ser melhor do que um dia não foi

A esperança de te reviver morreu
e na lápide está escrito: fui eu
quem te enterrou e te mandou pra capital
sem destino de partida
estás no inferno astral.


Liquidificador

A cabeça age como um liquidificador
Tudo dentro se mistura e nada sai igual
O romântico soa brega
O importante foi triturado
E o que era pra ser esquecido, foi lembrado

Lâminas que circulam
e destróem em uma fração de segundos
todos os minutos que outrora eu contei

A receita menos feita por um gourmet
e nunca passada antes num programa de tevê
o drama que é essa trama
A mistura do meu ser

Outrora

Dos tantos que tive por aqui
Fiz questão de armazenar
Os gritos, ritmos e tempos
Do sujeito imperfeito
que me fez deslumbrar

A carne
A margem
O erro e o acerto
O cheiro de uma noite
na qual em algumas horas atrás
acenderam velas para aquecer a alma

Senhora calma que se despede
Com prece, diz que vai voltar
Num tóxico, no óssio talvez
ela há de vingar

E se no meu canto chorar
Será em Sol maior
Pois se existe algo que reluz mais que a melodia
é a felicidade de sofrer o amor

sexta-feira, 3 de junho de 2011



cristal

É delicado lidar com algo que simplesmente te bloqueia. Sem explicação, sem razão, questões químicas talvez, nada de teorias. É como se me fizesse ser um fogo, a desmanchar, a queimar qualquer hora de descuido. É como um caminho de folhas de vitória régia, as quais não suportam muito, mas fingem bem. Às vezes nem tão bem. É apenas indisposição de lutar por uma causa que... Trava. De segurança. Talvez. Mas é frustrante, pois podia ser um caso legal. Um caso sério até, mas cool ainda assim. Sinto que falta um pouco de insanidade, até de minha parte.

É difícil tentar sair de um labirinto e querer ser simples.